POR WASHINGTON ARAÚJO
Mais de meio
século depois da televisão constatamos a poderosa força de atração de corações
e mentes que o veículo possui. Se antes a leitura fazia parte de nossa higiene
mental diária hoje tudo se faz diante da TV. Com isso passamos pelo mundo como
observadores contumazes de notícias no formato vídeo-clip. Na falta de
imagens de ação os artistas da animação gráfica são chamados a supri-la.
Atrofiamos, por assim dizer, nosso poder de análise, nosso senso crítico, nosso
contato regular com os fundadores de nosso idioma pátrio. Neste ano em que
celebrou-se o centenário de morte de Machado de Assis torna-se urgente perguntar
como seria a produção literária do bruxo do Cosme Velho se na época já
existisse a televisão. Teria sido ele um roteirista de novela, de mini-séries,
de filmes? Os personagens já seriam criados tendo em vista o veículo que lhe
daria vazão e publicidade? Saberíamos então como seria a Capitu e o jeito muito
específico de se ter olhos de cigana, de ressaca, e tudo isso, visto pelo olhar
do próprio autor. Mas mesmo que tal idéia possa parecer tentadora, pelo menos a
uma primeira vista, o fato que teríamos perdido a conexão maior com o idioma
que usamos para balbuciar nossas primeiríssimas palavras. Penso que foi muito
bom que o advento da televisão somente vingasse lá pela metade do século XX.
Isso permitiu que grandes talentos surgissem e pudessem embalar boa quantidade
de gerações nascidas e ainda as não-nascidas.
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